Cheguei hoje da Vila de Kibuye, que fica no distrito de Kamuli, aproximadamente quatro horas distante de Jinja. Vou trabalhar de segunda a quinta feira na vila e sexta feira fico com as crianças na Babies Home.
A ong Arise and Shine, na qual estou trabalhando, gerencia a Babies Home, pequeno orfanato onde ficam crianças que perderam os pais-principalmente em decorrência da Aids-, ou os mesmos não tem condições de cuidar de seus filhos, como também crianças com problemas físicos e mentais, dentro outras situações.
A mesma também possui projetos na vila de Kibuye, local onde a diretora da Ong, Sharon, nasceu. Lá os projetos atuais são de produzir velas e colares, como fonte de renda para as mulheres, ensinar a comunidade a fazer e utilizar um forno que evita a perda de calor e reduz o consumo de madeira, como também conduz aulas de alfabetização de adultos, educação sexual, higiene, etc.
Fiquei responsável por conduzir a parte de higiene e educação sexual, principalmente refente à prevenção e cuidados com HIV.
Segunda-feira, então, pegamos um matatu lotado-van considerada o taxi local-, e realizamos uma viagem de três horas até chegar a um distrito onde pegamos boda-bodas para ir até a vila, só eles chegam lá- fomos dois em cada com os colchões amarrados atrás.
Chegando na vila de boda-boda.
Foi incrível! Foi uma hora em cima de um boda-boda, que é uma moto que cabem até quatro pessoas, em estradas de terra com muita poeira- tudo fica laranja, até as plantas ficam todas laranjas da terra e poeira, e quando passamos pelas casinhas as crianças vinham correndo dar tchau para nós. Elas falavam "jambo, jambo!" que significa "Oi" em Swahilli e também em Luganda, dialeto falado na Uganda.
Crianças que vinham nos saudar no caminho para a vila.
Chegamos na vila, uma area rural onde as casas são cabanas feitas de tijolo, cimento ou uma mistura de solo, com tetos de palha, e foi nessas cabanas onde dormimos por três noites, na companhia de muitos sapos, pernilongos, aranhas e todo tipo de inseto. As meninas me apelidaram de "frog catcher", pois eu pegava os sapos de dentro das casinhas pra galera. O meu amigo da Cingapura tinha medo de pegá-los, e eu retirei seis da cabana deles! Fiquei feliz de ter trazido meu mosquiteiro comigo, porque sem eles iria sofrer um bocado- as meninas que dormiram na mesma cabana que eu, que são de Cingapura, foram sugadas pelos mosquitos, tadinhas.
Na vila não se tem eletrecidade, água corrente e nenhum conforto da modernidade, começando pelas cabanas de chão de terra. É como acampar, então pra quem curte um wild camping, não tem problema.
No outro dia fizemos uma trilha até o Rio Nilo, majestoso, sereno, sublime...LINDO! Na próxima vez que for lá vou tentar andar de barco com algum local, mas é relativamente perigoso porque não tem coletes salva-vidas, então qualquer coisa, precisamos nadar muito, hehehe.
Trilha para o Rio Nilo.
Árvore que parecia um cactus gigante. Incrível!
Majestoso Nilo.
Pescadores no Rio Nilo.
Juma, membro da Arise and Shine, nos orientou sobre os projetos e saimos para fazer perguntas para as donas de casa sobre o tipo de forno que elas utilizam- Um novo projeto da Arise and Shine é ensinar a comunidade a fazer o Wood Saving Stove, forno modelado com uma mistura de terra, grama e um pouco de cimento, moldado a partir de troncos de bananeira, que ajuda a manter o calor e economizar madeira.
Forno que economiza madeira e permite uma menor perda de calor ao cozinhar.
Fizemos várias entrevistas, nos deslocando de uma cabana para outra (elas ficam separadas, a vila não é concentrada em um só local) o sol estava escaldante, mas foi muito interessante vivenciar essa realidade- pássavamos por muitas plantações de batata doce e encontrávamos muitas pessoas andando de bicicleta pelo caminho-principal meio de transporte lá, adorei! Senti saudades da minha bike- geralmente carregando bombonas de água retirada do poço, madeira ou comida. Quase fomos atropelados por bicicletas várias vezes, principalmente quando andávamos a noite.
Crianças que buscam água para ganhar algum dinheiro e as cabanas onde dormimos atrás.
Mulheres africanas e suas bicicletas. Lá não se tem carros!
Neste dia encontrei um grupo de senhoras da comunidade sentadas em uma sombra, como é lindo o jeito que elas se vestem, cheias de cores e vida!
Mulheres da vila com as quais iremos desenvolver os projetos de educação e geração de renda sustentável.
Lindas!
Preparando o jantar sob as estrelas.
No outro dia pela manhã eu e os outros voluntários que estão aqui comigo construimos um forno, e pela tarde demos início às nossas aulas na escola- as meninas da Cingapura iniciaram com a alfabetização de adultos e depois entrei falando alguns tópicos de higiene pessoal. Elas gostam muito de aprender, e foram muito gratas a nós. Conversei um pouco com Juma e ele me disse que muitas vivem com menos de um dólar por dia, abaixo da linha de pobreza- em um mês, isso daria menos de 30 dólares, ou seja, menos de 60 reais, arredondando um dólar para dois reais. Você conseguiria viver assim? Consegue imaginar sua rotina, principalmente a alimentar, dessa maneira? As vezes comem apenas uma batata doce e água durante o dia...
Os banhos lá, tomei apenas dois, com uma garrafa de água- se acabou, paciência, ou tem que buscar mais no poço-eles tem um poço que tiram água segura para beber e também para usar para cozinhar e tomar banho- que para muitos fica a quilômetros de distância.Você pode pagar algumas crianças para buscar água ou buscar por si caminhando.Lavar o cabelo, sem chance. É do jeito ugândes, água, preciosidade! As necessidades são feitas em uma latrina, esqueci de tirar fotos...
Lugar onde tomávamos banho, com uma vista para a plantação de milho. O vento batia no corpo livre, liberdade em um local incomum.
Voltamos cedinho pela manhã para Jinja, e pegamos os bodas novamente na primeira etapa. Os meninos foram todos juntos desta vez, 4 em um mesmo boda-boda! Eu fui em outra moto junto com a Yucadi.
Meninos indo embora da vila em um boda-boda! Atrás as meninas ugandesas que estudam desenvolvimento social, que vão ficar lá por três meses, direto.
As crianças novamente vinham correndo para dizer tchau apra nós, foi muito emocionante, eles adoram quando vamos para a vila...As emoções a cada dia aqui ficam mais fortes.
Chegamos em Jinja depois de longas horas de matatu, todos muito cansados e sujos por causa da poeira da vila, da estrada de terra.
Anas versão leão: laranja da terra, suja e com a juba totalmente descabelada.
Tomei um banho renovador, mas economizando água! Hoje mais do que nunca economizei água, e peço novamente para todos, apesar de sabermos a importância da substância da vida, não damos o real valor para ela... Nem muitas vezes para nossa comida, que temos acesso a toda hora, da melhor qualidade e variedade, que sejamos muito gratos por isso.
Logo é natal, e vamos passar todos juntos, fazer uma festa aqui em casa, pois muitos amigos nunca comemoraram natal, por virem de diferentes culturas, e no domingo iremos fazer a festa para as crianças na babies home- vamos decorar a casa com cores natalinas, vou fazer brigadeiro para elas e dar os presentes que comprei aqui com a ajuda dos amigos brasileiros.
Vamos fazer rafting no Rio Nilo e, se eu tiver coragem, bungee jumping! Irra!!!
Beijo grande nos corações!!!!
As experiências tão cada vez mais lindas e emocionantes, Anas! E você tá linda de leão! Mais feliz impossível! Que o seu natal aí seja lindo e cheio de luz e amor!
ResponderExcluirTô amando seu blog e amando mais ainda de te ver tão feliz, ajudando e iluminando a vida dessas pessoas tão lindas e tão sorridentes!
Te amo! e dá-lhe brigadeiro, rafting e bungee jumping! UHU! Coragem!
Anas, tô vendo que tu tá curtindo muito! Fico feliz de ver esse sorriso na sua cara...
ResponderExcluirTá linda como sempre.
Beijão
Muitas saudades
Anaaas linda! Adorei tudo o que vc escreveu! Não deixe de nos manter atualizados, é muito bom acompanhar tudo o q está acontecendo por aí com vc.
ResponderExcluirBjuuuuu!
Anas!! Feliz Natal, lindona, to acompanhando sempre seu blog!!!
ResponderExcluirSaudadonas
Bjsss